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6.Regresso ao Futuro 1 (O Que Chega Hoje)

  • Foto do escritor: Miguel João Ferreira
    Miguel João Ferreira
  • 11 de dez. de 2017
  • 10 min de leitura

Hoje chega um pouco de tudo; ou, talvez, dizer: «hoje chega virtualmente tudo» seja mais correcto. Porque, de facto, o virtual começa cada vez mais a preencher a nossa realidade, que se aumenta das mais variadas formas. Mas lá iremos. Antes de entrarmos em realidades “reais”, virtuais e aumentadas, vejamos o que a tecnologia nos dá agora.


Agora podemos mais; melhor; mais depressa; agora fazemos (o que quer que seja) não apenas aqui, mas em rede; agora trabalhamos com utensílios cada vez mais pequenos, mais leves, mais precisos, mais fiáveis, mais baratos, mais etc..


Agora, graças à tecnologia, temos nova noção do tempo e não apenas novas formas de o medir. Um segundo, neste pico da revolução tecnológica, é de facto uma eternidade. Na Fórmula 1, um simples segundo pode representar uma volta de avanço entre o primeiro e o último. Nas fórmulas de todos os dias, é o tempo necessário para que se percam milhões, se fechem negócios, se falhe um transporte, se transmita uma mensagem, se salve uma vida… E um segundo é a tolerância máxima de um cibernauta para esperar por um download.


Vivemos cada vez mais numa voracidade frenética, num estranho carpe diem de Horácio, em que o segundo é a medida do aproveitamento da vida. E esses segundos que perseguimos com ânsia são passados em casas inteligentes; com modos eficientes de conservação de energia térmica ou de poupança de recursos como água; optimização de aparelhos eléctricos; com quadros interactivos que mudam consoante o nosso estado de espírito; com frigoríficos e porta de entrada ligados ao telemóvel, permitindo que vejamos o interior do primeiro quando vamos às compras ou que saibamos quem nos toca à porta quando não estamos em casa. São luxos, ainda, acessíveis apenas a pessoas com mais recursos económicos; mas dentro de poucas décadas serão o padrão de qualquer apartamento, por mais modesto.


A engenharia, a construção civil recorrem a novas técnicas e a melhores materiais, mais resistentes; as operações são mais seguras e muito mais rápidas. Os edifícios são projectados por meio de programas dedicados, em 3D, que ajudam a calcular todos os aspectos, paisagístico, estrutural, estético, de segurança, etc.


Drones começam a concorrer com os pássaros por cima das nossas cabeças, e são usados por públicos tão díspares (e com objectivos tão diferentes) quanto aficcionados dos gadgets e aeronáutica; serviços secretos; ou empresas de correios para entrega de correspondência, não à nossa porta, mas à nossa janela, num arranha-céus.


A exploração espacial, geológica ou oceânica, desenvolve-se com o recurso a sondas ou outro tipo de máquinas que podem ir onde o Homem não pode, resolvendo mistérios até então insondáveis ou abrindo possibilidades que se julgavam não existir, como água em Marte, para onde talvez um dia possamos de facto ir viver.


Aparecem-nos, agora, “maravilhas” como:


O Space X Falcon, o primeiro foguete reutilizável que permite optimizar os milhões gastos na exploração espacial e promete acelerar exponencialmente as Odisseias no Espaço.

Nasce o rim biónico e diz-se adeus à máquina de hemodiálise.

A expressão “vistas largas” ganha novo sentido com os “Snapchat Spectacles” que incorporam o conceito GoPro num simples par de óculos, para gravar o aqui-agora na perspectiva única de quem vive a experiência — como se estivéssemos a gravar e a ver, em simultâneo, as nossas memórias.

Faz-se ouvir o Here One, que nos permite ouvir apenas o que queremos — eliminar o som de um bebé que chora num avião; ampliar a voz que queremos ouvir numa sala cheia de gente.

Circula-se com a Superpedestrian Copenhagen Wheel, uma roda de bicicleta robótica que aumenta o impulso e o poder de pedalagem de um ciclista em mais 30km/h durante c. de 45Km. Com um motor integrado no seu interior, uma bateria, um sensor wireless que se liga ao smartphone e travões regenerativos: é de facto justo falar-se na reinvenção da roda.

A televisão aumenta a experiência visual através da LG Signature W-Series "Wallpaper" TV com uma tecnologia de suporte que, para além da qualidade de imagem, se dissolve no espaço, confundido-se com ele e dando a impressão de que a televisão, quase imperceptível, e a imagem que vemos dela, flutuam no espaço.

Os cegos já têm visão assistida com a eSight 3 que os ajuda a navegar na web através de uma câmara com monitor de video que lê a informação e dá direcções, aumentando a realidade do utilizador e dando-lhe um maior acesso a uma pequena mas importante parte do mundo (e que constitui o seu próprio universo).


A revolução tecnológica, a manipulação do quotidiano por meio das máquinas, analógicas e digitais, está de facto em todo o lado e influencia-nos em todos os campos:


Na vida empresarial e nos negócios temos o trabalho à distância; a Cloud; a virtualização; os softwares de gestão tipo CRM (customer relationship management); a linha de produção programada (PLC), que permite maior exactidão no controlo da produtividade; os sistemas de base de dados de acesso remoto que fazem controlo automático de inventários; a VPN, que estabelece um túnel virtual de ligação à intranet da empresa ou de uma instituição a partir de qualquer lugar no mundo, sem que o utilizador esteja dependente das infra-estruturas físicas dessa instituição; monitorização ao minuto de uma entrega / encomenda… Tudo pensado para poupar tempo e dinheiro.


Na comunicação vingam os Multimédia que elevaram para outro nível a transmissão de uma mensagem; os media (informação noticiosa) desenvolveram-se para o online, multiplicando-se os canais de divulgação de informação; há apps e gadgets dedicados à comunicação entre indivíduos (skype, facetime, google-chat, facebook, etc. com troca síncrona de pacotes áudio-visuais).

Com o smartphone dispomos de corrector automático multilingue; as mensagens já não precisam de ser escritas, podem ser ditadas. As chamadas podem ser feitas em alta-voz, e podemos dizer ao computador do telefone o que pretendemos ou a quem queremos ligar. Aliás, um telefone já é muito mais do que um mero instrumento de comunicação: de sistema de navegação a audiovisual, o telefone faz praticamente tudo menos lavar a loiça. E talvez até isso daqui a 10 anos, programando, por exemplo, a máquina de lavar e accionando-a, em casa, a partir do trabalho.

Com o smartwatch temos um computador no pulso; e a cena icónica de Knight Rider em que Michael Knight pedia, por meio do seu relógio, ao seu automóvel KIT que o fosse buscar, está a poucos anos de ser uma realidade: adeus problemas de estacionamento!

Homens e máquinas estão, de facto, a comunicar cada vez mais, e não só por meio das linguagens de programação que convertem a linguagem semi-humana em linguagem-máquina (binária). Um computador Apple, por exemplo, dispõe já do sistema Siri, que permite ao utilizador ditar as suas ordens de pesquisa em lugar de as escrever. As máquinas comunicam entre si: terminais (multibanco ou ordens pré-programadas em linha de montagem, por exemplo); e o novo hype de comunicação empresarial ou institucional é a Videoconferência: as reuniões já não implicam que os participantes estejam todos no mesmo lugar — Vidyo.com é a solução do momento.

A TV já não funciona por sinal analógico mas digital. O sistema IPTV (por protocolo de internet), com gravação em nuvem de programas preferidos, stop, play e rewind deixou de prender o espectador ao horário das emissoras. Qualquer programa pode ser visto a espaços no espaço de tempo daquele que o quer ver. E, para ver televisão, já não precisamos de um televisor. Podemos fazê-lo num computador, num tablet, num telefone, em casa ou na rua, desde que tenhamos ligação à rede. Qualquer dia poderemos projectar o nosso programa de eleição numa simples parade em qualquer parte da cidade… ou do campo. Basta escolher o canal.

O vlog é um passatempo do teenager cool, e uma ferramenta do R.P. (Relações Públicas); DJ (disk jockey) é VJ (video jockey) e já não basta passar o som, há que pensar em passar o vídeo. O satélite artificial é o novo sol que ilumina as comunicações e nos liga a tudo.


Nas Relações Humanas vingam o Facebook (online talking), o Twitter (online wandering), o Instagram (online photo-shooting), ou o Tinder (online dating). É aceitável estar em qualquer lado; inaceitável é não estar em rede.


Na Educação complementa-se a aquisição de conhecimento com os Multimédia (aplicações e ferramentas de texto, som e imagem) e plataformas como o Moodle. As salas de aula estão cada vez mais equipadas com computador, smart board, e projecções de informação cada vez mais dinâmicas. Proliferam os repositórios, as livrarias digitais, as wikis, os sites de resumos, de e-learning, b-learning (misto de em-linha com presencial), os dicionários online, as apps e jogos didácticos para dispositivos móveis.


No comércio e retalho as pessoas já não precisam de sair de casa para terem aquilo de que precisam. O negócio online está de vento em popa, da roupa e dos bens essenciais à tecnologia. Paypal.com, Square Wallet, Amazon.com, E-bay; OLX, ou o hipermercado online são paragens obrigatórias do consumidor informado.


Na agricultura, a terra já não se lavra com arados puxados por animais e força humana, mas com tractores, sistemas de rega automática, controlo computadorizado dos tempos de cultivo e de colheita, controlo de castas (caso da vinicultura), etc. Os agricultores podem agora servir-se de apps móveis como FarmGraze, que permitem trabalhar o campo mais depressa e com mais precisão, através, por exemplo, de aconselhamento sobre tratamento da vegetação; criadores de animais recebem sugestões de melhor alimento para o gado. A app calcula também a quantidade de vegetação existente e em que medida é suficiente para alimentar a população animal da quinta. “Horse Ration App” permite controlar a quantidade de comida dada ao cavalo, por ex., evitando a obesidade do animal. Quem sabe se em breve não haverá outra que controle a obesidade do dono?


Na Banca e Finança vingam o Online Banking, o jogo da bolsa, os cartões, as transferências, os terminais, a bitcoin, adorada por vilões e tributo-fugitivos, por quase não deixar rasto. O dinheiro é cada vez mais plástico e virtual e cada vez menos físico; logo, cada vez mais claramente absurdo.


As forças da natureza são ainda incontroláveis; mas podem domar-se melhor e manipular-se por meio de barragens com quádrupla função de bloquear, armazenar e conduzir torrentes de água, para gerar electricidade. Da natureza produz-se calor, adquire-se energia eólica, energia solar e outros tantos recursos, para além do elementaríssimo oxigénio.


Nos Transportes os carros, comboios e aviões estão cada vez mais rápidos, seguros, confortáveis e desenvolvidos, cheios de gadgets que aumentam a nossa capacidade de orientação e interacção com o mundo envolvente, promovendo de forma (mais) segura o multitasking. Tempo é literalmente dinheiro: melhor transporte = melhor mobilidade, melhor negócio, melhor aproveitamento do tempo e da qualidade de vida.


Na Saúde os Hospitais equipam-se de tecnologia de ponta como auxiliar de diagnóstico, tratamento, operatório e pós-operatório; apps em smartwatch ou smartphone de fitness, monitorização de batimento cardíaco, pressão arterial, calorias, colesterol, e por aí adiante. Por meio da tecnologia podemos fazer aconselhamento nutricional; programas de exercício físico com controlo, acompanhamento diário e histórico de treinos; HAPIfork é uma app que monitoriza o que comemos e regula os nossos hábitos alimentares, inclusive a velocidade a que comemos para melhorar a digestão. Controlo opressivo ou co-adjuvante indispensável?


O armazenamento da nossa preciosa informação já não precisa de espaço físico — não, pelo menos, na nossa casa ou empresa — Dispomos de serviços de armazenamento de dados em nuvem, (tendencialmente) seguros, quer gratuitos quer pagos (consoante o espaço ocupado) como Google Drive (Google), Icloud (Apple), OneDrive (Microsoft) ou Space Monkey (APX Group).


E que não se pense que é tudo. Quem julgasse impossível que objetos reais interagissem com objectos virtuais, ou vice-versa, vê-se forçado a admitir o seu erro e a dar as boas vindas a uma tecnologia que já revoluciona a maneira como o Homem interage com as máquinas e as máquinas com o Homem; ou em 4 letras apenas: RV-RA: Realidade Virtual e Realidade Aumentada. E se ainda estamos longe dos cenários negros de Matrix e Terminator já estamos na era das máquinas com (mais) “personalidade”, “cordiais” e, com certeza, mais e mais reactivas às ações Humanas. Mas o que são então estes dois fenómenos, Realidade Virtual e Realidade Aumentada?


Realidade virtual é uma tecnologia de interface entre um utilizador e um sistema operacional. Este tipo de interacção Homem-Máquina, realizada em tempo real, é a forma mais avançada de relação do utilizador com o computador. Recorre, para isso, a um ambiente sintético, 3D, por meio de canais multi-sensoriais e técnicas e equipamentos computacionais que criam a sensação de presença física no universo virtual. O objectivo dessa tecnologia é, portanto, recriar ao máximo a sensação de realidade, levando o indivíduo a visualizar e manipular representações extremamente complexas, adoptando o mundo virtual em que navega como a própria realidade: o indivíduo imerge por inteiro na realidade virtual e, durante o período em que dura a experiência, a realidade física é completamente substituída pela realidade virtual. Dois excelentes exemplos disso aplicados ao cinema são os filmes eXistenZ (1999, David Cronenberg) e Tron (1982, Steven Lisberger). Tron leva este conceito ainda mais longe, fazendo com que, através de um Supercomputador autodeterminado um utilizador (Jeff Bridges) seja completa e literalmente transportado para o universo binário e virtual, interagindo fisicamente com programas. No caso de Tron, trata-se de ficção científica e alegoria da realidade sócio-política de 1982. Mas poderá ser literal, por exemplo, daqui a 100 anos? Será demasiado arriscado afirmarmos taxativamente que não. Afinal, a representação digital é mero código binário; um sistema lógico; e toda a matéria, nós inclusive, é composta de átomos, que obedece a uma determinada lógica — que em grande parte ultrapassa o nosso entendimento — e não pode ser tudo convertido em código binário? Quem sabe, então, não somos, a nosso modo, ou não seremos também, de qualquer modo, traduzidos um dia em “meros” 0s e 1s?


Realidade Aumentada é, por seu turno, em vez da substituição (como acontece com a Realidade Virtual), a incorporação do universo digital, virtual, computacional, na realidade. Quando faz uso de aplicações ou ferramentas de realidade aumentada, o utilizador não perde alguma vez noção da sua realidade, mas incorpora nela, em simultâneo, elementos virtuais que o ajudam a ter uma interacção dinâmica com essa realidade, retirando dela, de forma imediata, informação precisa. De uma forma simples, portanto, Realidade Aumentada é uma tecnologia que permite que o mundo virtual seja incorporado no real (em vez de ser o indivíduo a incorporar-se no virtual em substituição da sua realidade), possibilitando, assim, maior interacção e alterando o paradigma de realização de uma tarefa. Quem pensa que objetos a projectar-se de uma tela são coisa de ficção científica deve preparar-se para ver marcianos a entrar pela janela do quarto — porque se a Realidade Aumentada é Sci-Fi, o Sci-Fi já chegou, a nave está aí: o sistema de interacção já não é uma localização precisa, mas o ambiente como um todo; os dados estão em todo o lado e a informação digital confunde-se com o espaço, no mundo em redor. Em sentido lato poderá por isso dizer-se que a História da Realidade Aumentada é a História dos “acréscimos” do Homem ao mundo em que vive; mas, para falarmos de RA, têm de se verificar 3 elementos:

1 objeto real que possibilite a interacção com o objeto virtual;

1 dispositivo capaz de transmitir a imagem do objeto real;

1 Software capaz de interpretar o sinal transmitido pelo dispositivo.

A Realidade Aumentada não tem limite de aplicações. Já existem vários sistemas de manipulação de RA disponíveis gratuitamente. Encontramos apps didácticas, lúdicas e incorporações em áreas tão distintas quanto engenharia, física, geologia, biologia etc. Pode ser usada para melhoria de processos da medicina, como cirurgias remotas; na indústria automóvel, facilitando a manutenção do carro pelo próprio dono, através de manuais de instrução interactivos; e vêmo-la no cinema já há décadas, em filmes como Terminator (1984, James Cameron), Top Gun (1986, Tony Scott), Predator (1987, John McTiernan), Robocop (1987, Paul Verhoeven), They Live (1988, John Carpenter), Total Recall (1990, Paul Verhoeven), Minority Report (2002, Steven Spielberg), Iron Man (2008, Jon Favreau) ou Avatar (2009, James Cameron).


O nosso Avatar ainda está para vir; mas não está longe: basta ler o próximo capítulo.


(Artigo de: Miguel João Ferreira)


 
 
 

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